25.6.13

Meu Rel(ato)

Todos vocês sabem que nas últimas semanas o Brasil todo está se mobilizando em diversas manifestações que já tem alcance internacional. Aqui em São Paulo, acompanho esses atos de perto. [O post tá grande, mas são as minhas experiências em cada ato e algumas fotos que tirei]

Meu primeiro contato com essas manifestações foi no Primeiro grande ato contra o aumento das passagens (06/06). Não cheguei a participar do protesto porque cheguei atrasada no local combinado e o grupo já estava a caminho da Avenida Paulista.. Porém quando cheguei na Avenida Paulista, diversas barricadas feitas com lixo pegando fogo já estavam dificultando o trânsito, viaturas passavam em alta velocidade, bombeiros apagavam o fogo e muitas pessoas sem saber o que estava acontecendo, paravam para tirar fotos. O clima foi ficando pesado quando a Tropa de Choque começou a bloquear a Avenida.. Eu estava com o Raul, tentando encontrar os amigos dele que participavam do ato, mas ficou difícil achar quando houve os primeiros disparos de bomba de gás lacrimogêneo perto do MASP. Não estávamos tão perto, mas depois de alguns segundos, o ar em volta já começou a incomodar a respiração e os olhos a arder. Nos afastamos e continuamos acompanhando de longe os movimentos da polícia.. Já era quase 22h e logo mais ia começar um show no Beco 203, o último da Jennifer Lo-fi + Lisabi (muito boas, recomendo!) e acabamos indo pra lá.

Logo depois, participei do Terceiro grande ato (11/06), que teve início na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista. O clima estava animado, galera com cartazes, bandeiras, máscaras, fotografando, entoando gritos de guerra com bateria e tudo. Ia aumentando o número de manifestantes e já começamos a andar em direção ao Terminal Parque Dom Pedro. Começou uma chuva terrível, mas ao contrário do que todos pensavam, a manifestação continuou firme e forte pelas ruas. Compramos capa de chuva e continuamos andando. Foi o único dia que levei a câmera da faculdade e consegui tirar umas fotos.
















































http://picasion.com/i/1UAHX/

O ato continuou tranquilo e forte até o Terminal Parque Dom Pedro. Estávamos na parte de trás do grupo quando paramos. Alguns minutos sem saber o que estava acontecendo na linha da frente, umas pessoas começaram a pedir para ir mais pra trás, e as que estavam atrás, gritavam de volta dizendo que a polícia estava lá. Foi tudo muito rápido depois que atiraram bombas de gás lacrimogêneo, muito empurra-empurra e desespero. Ficamos encurralados e a única saída era uma ruazinha que cortava rua em que estávamos. Todo mundo foi pra lá. As bombas caindo. Muita gente tossindo, tentando se proteger com a própria roupa. Os olhos ardendo, deixando quase impossível abrir o olho. Levei minha máscara de gás (comprei pra aula de Linguagem Tridimensional, pra pintar metais), mas não deu tempo de arrumar direito e eu tava mais preocupada com a câmera que tava no meu pescoço, ser esmagada na multidão. Acabamos entrando em uma porta que tava pra uma escadinha estreita, subimos, subimos.. Outras pessoas se refugiaram lá também. Era algum tipo de ocupação, mas pelo menos tinha uma grade que dava pro terraço, onde conseguimos finalmente respirar ar puro e nos recuperar das bombas. 
Quando saímos de lá, já não tinha quase ninguém na rua e só se ouvia os helicópteros histéricos. Nos juntamos à outros manifestantes que estavam seguindo pra Praça da Sé, onde todos iriam se reunir de novo. Lá, mais e mais manifestantes chegavam, assim como muitas viaturas e motos da PM, seguidos da Tropa de Choque. Ficamos alguns minutos, mas logo fomos embora..

O quarto ato (13/06), foi o dia que mais chamou a atenção de todo o Brasil, por ter sido extremamente violento. Não discordarei, porque tudo o que eu vi foi mesmo violência e a força utilizada pela Tropa de Choque e a PM. Saindo do metrô, a circulação de pessoas já estava intensa, assim como a presença dos policiais. Chegamos na concentração em frente ao Teatro Municipal, que estava completamente tomado pelos manifestantes, munidos de cartazes, bandeiras, máscaras e vinagre. A caminhada seguiu até a Praça Roosevelt, onde a polícia estava para bloquear o avanço para a Avenida Paulista. Ficamos aguardando na praça a movimentação do grupo, foi então que as bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas. O corre-corre começou e para ir pro lado oposto da polícia, tivemos que passar por escadas e rampas, o que dificultou muito a saída das pessoas por causa do fluxo. Pulamos uma mureta de concreto, com pessoas nos ajudando a subir.. Acabei ficando com um hematoma no braço e na perna, mas agora já tá quase saindo. Nessa correria, me perdi da minha amiga Jéssica e do seu amigo Everton, que estavam comigo e com o Raul. Era bomba pra todo lado. Corremos até achar uma rua mais tranquila..
Seguimos rumo a Av. Paulista (sempre nos comunicando com a Jéssica, pra saber aonde eles tavam, se estavam todos bem, etc) e logo subindo a Rua da Consolação, um dos sentidos do trânsito estava bloqueado pela PM no cruzamento com a Av. Paulista. A cavalaria subia a Consolação ao nosso lado, helicópteros passavam a todo instante, barricadas de lixo pegando fogo, cacos de vidro pelo chão, algumas pessoas ficaram receosas em seguir para a Paulista devido ao grande número de policiais e veículos da Tropa de Choque. Parecia uma guerra. Recebemos mensagem de gente que estava na Paulista que diziam para não ir pra lá.. Estavam encurralando as pessoas, assim como na Rua Augusta e as ruazinhas que davam pra Paulista.
Resolvemos ficar ali numa pracinha que fica no cruzamento da Avenida Paulista com a Consolação, observando de longe a movimentação. A cavalaria ficou em fila (lado a lado) para abrir passagem pro trânsito que já estava acumulado. Veículos da choque entraram na Avenida Paulista e depois de alguns minutos, ouviu-se bombas. Pessoas correndo pra fora da Paulista e a Choque vindo por trás com seus escudos pretos..  Não estávamos protestando, xingando ou atirando pedras, só parados olhando o que tava acontecendo. Mas mesmo assim, a Choque atirou uma bomba de gás lacrimogêneo na direção da praça em que nós e mais umas pessoas inofensivas estávamos. Ninguém esperava por isso. Corremos. Muito. Um cara caiu na nossa frente, eu vi uma bomba quicar do meu lado. Não consegui entender direito o que estava acontecendo.. Foi assustador.
Demos a volta por uma ruazinha que ficava mais embaixo e voltamos à Consolação. O clima continuava pesado, e com a quantidade de PM, Choque e a cavalaria, não tinha muito o que fazer. Chegando no metrô Paulista, encontramos uma fileira de guardas do metrô barrando a entrada e algumas pessoas querendo entrar. Logo chegou a PM e pediu para que abrissem a entrada do metrô, entramos, mas depois de alguns minutos, fecharam a entrada de novo. Um barulho de bomba ecoou e parecia perto.. Dois caras da Choque entraram e começaram a pedir para que as pessoas ali do "hall" embarcassem e que não era pra ficar lá. Passamos da catraca e ficamos esperando a Jéssica e o Everton, que foram parar lá no Anhangabaú. Vimos alguns seguranças levando um homem, mas não deu pra saber muito bem do que se tratava. Fomos embora e na tv pudemos ver o caos que essa manifestação se tornou.

O quinto ato (17/06) foi o que se pôde ver mais pessoas nas ruas. Depois de toda a violência e repressão do quarto ato, a mídia e as redes sociais, borbulharam com notícias e informações de pessoas que ficaram feridas, relatos e comentários de grandes blogs e sites. Muitas pessoas procuraram saber mais sobre essas manifestações e muitas delas que antes eram contra, acabaram mudando de opinião e saindo pras ruas (inclusive pessoas de outras cidades vieram pra São Paulo).
A concentração foi no Largo da Batata e chegando lá, o número de pessoas era grande. Nos atrasamos pra começar a andar em direção à Avenida Paulista, mas muitas pessoas ainda continuavam no ponto de encontro. Andamos e andamos, mas não se via nenhuma viatura, algum policial.. nada. Um ou outro helicóptero passava por nós, mas ainda sim, estava calmo demais. A diferença do quinto ato com os outros, foi que a calmaria protagonizou a manifestação. Nem os gritos tinham a força e a vontade dos dias anteriores. "O que aconteceu?" Eu me perguntava a todo momento.
Vários momentos eu me questionava se eu estava mesmo em uma manifestação, porque tudo o que eu via ao meu redor eram bandeiras do Brasil nas costas, camisetas do Brasil, cara pintada de verde e amarelo e ao invés de gritos de guerra sobre o aumento das passagens, se ouvia o hino nacional e "eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor".
Chegamos em um cruzamento e ninguém sabia pra onde ir..  Uns amigos meus que foram na frente, disseram que estavam indo parar a Marginal Pinheiros. Porém resolvemos seguir à Paulista, que apesar de ser mais longe, era onde normalmente acabava/começava os manifestos. Depois de uma caminhada cansativa, chegamos na Avenida e tava ridiculamente miado. Não tinha carros porque já era tarde, então todos perambulavam calmamente pelas ruas, tentando bloquear a passagem de um ou dois ônibus. Deitamos no cruzamento da Paulista com a Consolação e minutos depois, várias pessoas deitaram a nossa volta também hahah






















O sétimo ato (20/06), com concentração na Praça do Ciclista (Avenida Paulista), foi o último do qual eu participei. A tarifa das passagens tinha acabado de ser revogada (voltando aos R$3) e como o ato já estava marcado, serviu como uma "comemoração" da população. O clima muito parecido com o quinto ato, bandeiras, verde e amarelo, hino nacional.. E mais o combo de Avenida Paulista interditada pela CET (palco montado), samba, barraquinha de milho, pipoca e cachorro quente espalhadas pela rua, pessoas vendendo cerveja, vinho e afins.. Era uma Virada Cultural fora de época. No começo, houve uma certa "manifestação" e agora o grito "Vem! Vem! Vem pra rua, vem contra o aumento, vem!" tinha trocado o aumento, por governo. As pessoas estavam perdidas.. Manifestando na Av. Paulista, JÁ BLOQUEADA, gritavam "A PAULISTA É NOSSA" e quando chegavam no fim dela, davam meia volta pra andar tudo de novo. Parte seguiu rumo a 23 de Maio, acompanhamos e acabamos bloqueando ela por algum tempo.. Mas era um grupo de umas 50 pessoas? O resto ficou observando de longe da ponte, enquanto os outros chamavam e pediam para descer também. Decepção. Decepção. Mais hino nacional.
Me senti deslocada. Aquele já não era mais o meu lugar. Voltamos pra Paulista e a festa era grande.. Não tinha hora pra acabar. Vi diversos grupos diferentes, cada um protestando contra alguma coisa (corrupção, PEC 37, Dilma, violência, etc), até que vi uma folha sulfite, simples, mas com palavras fortes "VIROU RAVE". Houve aplausos pra esse cara e pessoas concordando quando reclamávamos de como aquilo tudo virou uma palhaçada.
Apesar disso, espero que continue as manifestações, os problemas estão longe de acabar. Nas outras cidades, desejo força, acompanho pela internet e vejo que o clima continua tenso pelo Brasil.  Aprendi muito com essas manifestações, pude pesquisar mais e entender coisas que antes não sabia. E espero que vocês também.

Alguns posts/notícias que eu recomendo a leitura:


E é isso aí. Desculpa pelo tamanho do post, mas ta aí um relato do que eu vi nessas últimas semanas.
Beijos,

Carol




5 comentários:

  1. Eu participei de dois manifestos aqui em Belém/PA e amanhã participarei de mais um. Acho que a coisa já meio que perdeu a força, mas não que vá acabar. Parece que depois da redução do valor da passagem em vários estados a coisa cessou um pouco, ou talvez esse n tenha sido exatamente o motivo. De qualquer forma, e como seu ultimo dia em um protesto, meio sem rumo, sem saber o que fazer... Pelo menos é assim que me sinto. A timeline voltando ao normal, e enfim. Talvez, no fim das contas, fosse só por R$0,20, ou pelo menos o pessoal pensou "uhu diminuiu" e ficou tão feliz que esqueceu do resto.

    Não leve minha opinião tao a serio porque talvez eu nem saiba direito o que estou falando, mas é o que estou sentindo. Pois vejo que "estamos voltando a programação normal", já que os comentários já não sao mais tao intensos e a toda hora, minha timeline não esta mais so política e as piadas já tomaram conta da coisa. Acho que quando era os R$0,20 o povo tinha um foco: diminuir esse valor. E agora? Agora é por direitos. Ta, mas quais? Até eu me sinto perdida quando paro pra me perguntar "porque estou indo para as ruas, afinal. porque NÓS estamos indo para as ruas afinal", é aquele negocio de "escreva o que você quer que melhore no seu cartaz, pq ninguém é adivinho"

    Enfim, é ver como as coisas vão andar daqui pra frente. Férias estão chegando e o pessoal vai pra gringa, vai pro interior, vai pra outras cidades... Tem que ver. Mas de qualquer forma, o sentimento que senti no primeiro manifesto foi algo inigualável, que me deu forças pro próximo e pro próximo. A sensação de saber que fez parte de algo tão importante é boa, porque levou a resultados. Por mais que isso acabe agora, ou não.

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    1. Esse é o problema de quando uma quantidade incrível de pessoas sai pra rua.. As coisas perdem o controle e o que eu vi nesses últimos protestos, foi a massa de manobra tomando conta. Pessoas que vão por satisfação própria, dizer que foi, ficar tirando fotinho no celular pra postar no facebook e esquecer do objetivo daquilo tudo.
      Eu vejo uma certa carência das pessoas na questão de informação mesmo. A galera sai pra rua "Não é só R$0,20!", e fica com cartaz escrito "não à corrupção", Impeachment da Dilma, PAZ MUNDIAL.. nossa, a galera cria uma utopia absurda.
      Sim, nos primeiros atos foi um sentimento maravilhoso mesmo. Mesmo sabendo dos perigos, correndo das bombas, foi muito bom chegar em casa com uma satisfação de ter feito algo pra mudar.
      Obrigada pelo comentário Vitória! Adorei saber o seu sentimento em relação às manifestações :)

      Beijos

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  2. E ah, desculpa o comentario enorme! hahahah.

    Inclusive, o Luna Pulpo ta de link novo :) http://bloglunapulpo.blogspot.com

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  3. Eu fui em alguns também e ajudei a organizar a manifestação no meu bairro, tipo quando eu comecei a ir eu de verdade sentia que não íamos mudar muita coisa, pouco gente ir sabe, mas sei lá do nada começou a ir muito gente e ganhamos forças e isso de verdade está sendo muito importante para o país, precisamos mostrar que podemos sim mudar o que está errado com paz e justiça, hoje em dia eu sinto que temos uma mega força, mesmo sem o passe livre podemos ir em frente pro outras lutas. Amei o post parabéns é importante temos guardados essas lembranças. Amei o blog já é favorita parabéns mesmo.

    Beijos

    http://www.fragmentos-intensos.com/

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    1. Sim! Depois dessa onda de protestos, deu pra ver que o Brasil está disposto a lutar por mudanças no país. É só questão de continuar a luta e não perder o foco.
      Brigada Iara! Fico muito feliz com o seu comentário!

      Beijos

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